Bom dia, Brasil. Boa tarde, Portugal.
Domingo, 23 de junho de 2024.
Embora use a saudação transcontinental que já é característica desta newsletter, escrevo-te direto do Brasil. Mais especificamente da cidade de Guarulhos, em São Paulo. Estou no aeroporto, em uma das minhas muitas horas de espera antes de retornar à Europa. Estou vivendo os últimos suspiros da turnê Jenni in Brasil e não poderia estar mais feliz de ter passado os últimos 23 dias na terrinha onde nasci.
Cheguei dia 1º de junho e, desde então, passei por Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas e Gerais e Paraná. Foi a minha maior gira pelo Brasil desde que nasci e meu primeiro retorno desde que parti em 2019. Muuuuuito tempo se passou (1662 dias, ou 4 anos e meio, para ser exato) e a saudade era grande. Apesar de pouco tempo por aqui, foi uma experiência linda, cheia de amor e abraços.
Há um bom tempo, eu fico tentando buscar por um lar, ou o que seria a definição de lar para mim. E é meio difícil, complexo. Mas essa viagem só veio a confirmar que eu tenho um montão de lares por esse mundão de deus. Tem tanto abraço que dá para morar, tanta vida para compartilhar... Eu não preciso de um lar. Eu tenho vários. E sempre posso construir novos.
Voltarei para a Itália na próxima semana, com alguma aflição no peito pelo mistério do que o futuro me reserva, mas levo o coração de bagagem cheio de afeto e saudade. Não vejo a hora de voltar ao Brasil! Já vou começar a juntar meus centésimos...
uma coisa muita especial
Algo que me tocou muito na viagem pro Brasil foi o fato de ver amigues e familiares pessoalmente, pós o meu processo de transição/entendimento da não-binariedade. É difícil colocar em palavras o simples fato de ser reconhecido por quem se é, ser respeitado. Ser chamado de “o Jenni” ou de “amigo” ou de “primo” ao vivo dá uma sensação tão boa, sabe?
Isso sem falar na BAITA RECEPÇÃO que minha família fez para mim. Tipo, olha essa faixa que minha mãe fez! Eu tenho muita sorte. Foi um junho muito, muito especial. E eu ainda presenteei minha mãe com uma camiseta personalizada. Gostaste?
Eu desejo que cada pessoa queer desse mundo possa encontrar uma família escolhida que a ama e respeita assim. Feliz mês do orgulho pra nós!
coisas que eu não esperava, mas que aconteceram
ouvi chico buarque e gostei: eu sempre tive birra com Chico Buarque por motivo nenhum, só não ia com a cara dele. Mas “Construção” estava na playlist de dirigir da Luiza e eu acabei ouvindo mais de uma vez nas nossas viagens. Quase certeza que eu já tinha ouvido a canção antes, mas foi a primeira vez que associei o nome à pessoa. Agora fiquei com uma curiosidadezinha de conhecer mais…
formatura do proerd: quando tu tens entre teus afetos professores, pode acontecer de tu seres chamado para uma formatura do Proerd. A Luiza se sentiu super culpada pelo rolê que atrasou e ainda durou mais do que devia, mas faz parte, já que ela era a responsável pela turma. A banda da polícia tocou “Thriller” para as crianças e fiquei me perguntando se aqueles mini seres humanos de idades entre 10 e 12 anos conheciam o hit. No mais, ACAB. Não recomendo, 0 estrelas.
bom dia do emicida: por causa das enchentes, eu voei mais do que deveria. E no meu voo de Curitiba para São Paulo (para depois ir pra Lisboa), eu fui colocado na classe “premium” e só isso já era show. Mas aí na saída do avião, eu vi que o Emicida estava sentado atrás de mim. E eu fiquei “AAAAAA” internamente, mas consegui emitir um “o show foi muito massa ontem” e ele, querido, me agradeceu. O coitado deve ter dormido as mesmas 3 horas que eu, então não quis incomodar e segui meu rumo. Mas depois, fora do avião, nossos caminhos se cruzaram e ele me deu um “tchau, brigado”. Achei um ótimo jeito de começar o domingo — pós show catártico — e com muitas horas de espera e viagem.
jenni in brasil: world tour
A turnê Jenni in Brasil foi um sucesso e queria te trazer os melhores momentos, com algumas dicas, é claro.
No Brasil, eu comi bem como não comia há muito tempo. Comida de mãe é a melhor comida do mundo, não tem jeito. Então um “salve” para o arroz e feijão da minha mãe e tudo mais que ela preparou para mim. E também um “salve” para todas as comidas BR que eu estava morrendo de saudade, em especial:
suco de uva integral (que, pasmem, não tem na Itália);
xis — aka o melhor lanche do mundo;
cacetinho — o “pão francês”;
chimia — doce de fruta de passar no pão, mas que é diferente de geleia. ainda mais aquela feita pela minha vó;
pinhão;
pastel;
aipim frito — ou “mandioca”;
amendoim cricri — aquele com açúcar, hmmm;
ampla oferta de frutas!!!
açaí — tem em Portugal, mas no Brasil é melhor e mais barato.
onde comer?
em Sapucaia do Sul:
legumansa: delivery de comida vegana, que faz salgadinhos, marmitas, congelados e, de quinta a sábado, várias opções de xis!
pastelaria corioni: na minha vida passada, eu amava a Pastelutti, porém, lá não tem massa vegana. já na Corioni tem! E tem boas opções de recheios, embora eu sempre tenha pedido para alterar algum sabor que tradicionalmente leva carne ou queijo.
the best açaí: foi uma surpresa e, embora seja uma franquia bem grandona, é uma boa opção para quem gosta de açaí e sorvete, já que ele tem buffet com várias opções (inclusive, diferentes opções de açaí). E recomendo o sorbet de pitaya também.
em São Paulo:
loving hut: restaurante buffet (com opções a la carte) e pizzaria vegana com tantas opções que fica até difícil tomar decisões. A comida era uma delícia! Obrigado, Anne, por ter me levado lá.
we coffee: eu sei que é franquia e etc, mas o bagel deles é bem gostoso e tem manteiga vegana. Tem uma opção de bebida naturalmente vegana e um doce, mas ambos estavam esgotados quando eu fui. Porém, aparentemente, é possível solicitar qualquer bebida do menu e trocar para leite vegetal.
em Poços de Caldas:
bold bloom: um café muito charmosinho no centro, que se denomina “kaffee uns kunsthaus” (café e casa de arte). A decoração é linda, tem vários pôsteres legais, inclusive um do David Lynch, e uma parede cheia de livros de arquitetura. Não tive a chance de experimentar o café, porque era depois das 18h e não tinha descafeinado, mas o que o povo pediu parecia bem bonito. Não tinha leite vegetal também. Tem duas opções veganas no menu e a torrada que eu comi era gostosa. Se não fores vegano, tens mais opções.
em Curitiba:
fuga café: com cuscuz todo dia e uma atmosfera aconchegante e convidativa (inspirada no amor pelo café e em Na Natureza Selvagem), este é um dos cafés mais legais que eu já fui. Visitei no sábado e pude aproveitar o brunch/merenda veg que tinha cuscuz com molho de tomate e queijo de castanha tostadinho, frutas com granola e open bar de café coado por uma hora. Quero muito voltar lá para experimentar o cold brew de rapadura e o papelon.
manifesto: como o próprio nome já diz, o espaço é camarada e a decoração é linda, com cartazes de vários revolucionários e bandeiras da palestina, do poder popular e do MST. Inclusive, o cardápio é feito com insumos de produtores locais e do Movimento Sem Terra. Tem um vasto menu de bebidas a base de café e eu experimentei o expresso shakerato de cumaru, que era uma delícia. E também comi uma coxinha de cogumelos, que era a opção de salgado vegano do dia.
O Fuga e o Manifesto têm seus próprios blends de cafés especiais. O Manifesto é uma torrefação, com entrega para todo o Brasil.
onde visitar?
em Poços de Caldas:
cascata das antas: apesar de não ter nenhuma anta, é um lugar lindo! Minas estava num período de seca quando eu fui, então a cascata estava com um volume baixo, mas isso não diminuiu sua beleza. Segundo minha guia Luiza, esta foi uma das locações de Turma da Mônica: Laços, que eu ainda não assisti, mas que foi filmado na cidade.
fonte dos macacos: desde a década de 1780, Poços de Caldas ficou conhecida pelas suas águas termais e a fundação da cidade se deu em volta disso. Embora não seja uma atração tão grande quanto já foi um dia, a cidade ainda tem a água sulfurosa em suas veias. E no centro de Poços, mas especificamente na Praça Dom Pedro II, há uma fonte onde é possível lavar as mãos com as águas medicinais, que já foram utilizadas para tratar várias doenças no passado.
em Curitiba:
passeio público: apesar de não poder entrar com cães (o que eu acho um crime), o parque é gigantesco, com laguinhos e muitas árvores. Tem uma área reservada para aves, que estão presas e eu não sei bem qual é a condição de vida delas, então não vou me pronunciar. Mas em um dos lagos, tem duas ilhas com muitas árvores e macaquinhos lá vivendo. A coisa mais linda da vida.
rua são francisco: entre as ruas Riachuelo e Presidente Faria, há um trecho da rua São Francisco que descobrimos por acaso, mas nos apaixonamos. Cheia de vida, restaurantes, brechós, a Praça de Bolso de Ciclistas e grafites super coloridos. Na próxima, quero ir lá com calma para visitar os lugares, especialmente o É Dino.
mercado público: é lindo o mercado público de Curitiba, tanta fruta, verdura e produtos naturais — algumas frutas que eu nunca tinha visto na vida, inclusive. O pastel de lá era uma delícia (a praça de alimentação fica no segundo piso). Trouxe para casa a “pimenta mais forte do mundo”, feita de Carolina Reaper, cuja divulgação dizia ser só para macho — mas eu comi e continuo sendo não-binário, então talvez eles devessem trocar os cartazes.
jardim botânico: eu sei que provavelmente tu já viste fotos do Jardim Botânico de Curitiba e a estufa é realmente muito legal e bonita, mas a parte mais legal do parque para mim foi andar pelos seus caminhos entre árvores majestosas e descobrir cotias, que eu vi pela primeira vez na vida e são fofíssimas.
parque barigui: por fim, mas não menos importante, capivaras! Tive a alegria imensa de ver uma de pertinho e de ver muitas outras ao longe (já que elas estavam nas ilhaszinhas do lago do Parque Barigui, curtindo o sol). E também fiz amizade com gansos!!!
Segunda-feira, 01 de julho de 2024.
Estou em Portugal, faz sol lá fora e eu termino os últimos detalhes da tua carta. Amanhã retorno para a Itália e inicio uma nova jornada. Desculpa pela ausência, mas agora voltamos com isso, como deve ser. Obrigado por seguires comigo. Às vezes, é tudo uma bagunça, mas é bom estar vivo. Até sexta! Beijinhos, Jenni.
Fim da carta 3. Vire a página.
Bloco de Notas é uma editoria mensal da newsletter jennews. Toda segunda-feira, uma nova curadoria feita para ti!