Bom dia, Brasil. Boa tarde, Itália.
Muito antes da internet, o rádio era a forma como eu descobria músicas novas. Eu tenho muito carinho por e sou muito nostálgico com relação a ele. Sempre gostei de ter a companhia de apresentadores e da dinâmica de não saber bem o que vem a seguir nos blocos musicais. Lógico que também adoro a música sob demanda que temos atualmente, a invenção dos podcasts e a forma de difusão contemporânea. Do analógico ao digital, música e áudio são partes inerentes do meu ser. Sem a música, eu nem estaria aqui, escrevendo esta newsletter.
Isso porque minha jornada de produção de conteúdo começou por causa de música lá em 2011. Em um blog singelo, um Holograma Musical, feito por mim e três meninas que se conheceram no chat do MSN de uma banda da região metropolitana de Porto Alegre (a LeChevais) e que dividiam o amor pela música e o sonho de ser jornalista. Meu primeiro vislumbre do que seria um Jenni blogueiro no futuro: os primeiros artigos, resenhas, entrevistas!
A quantidade de conexões que eu construí por causa da música não cabe em uma newsletter. Tantos shows, grandes momentos, choros e emoção. Tantos projetos que eu tive a honra de participar e que me trouxeram até aqui. E é por isso que essa editoria é dedicada a ela, mas não só a ela. No radinho é sobre aquilo que nos move, nos embala, que entra pelos ouvidos e chega no coração.
Então, vamos começar?
end of beginning
Talvez tu tenhas escutado essa música. “End of Beginning” tem tocado bastante, principalmente em reels e tiktoks por aí. Esse chiclete faz parte do álbum Decide, lançado em 2022 por Djo. O que tu talvez tu não saibas é que Djo é o projeto de Joe Kerry, o Steve Harrington de Stranger Things.
Mas essa não é a primeira vez que Joe faz música. Antes disso, ele tocou em algumas bandas. Uma delas se chama Post Animal, que eu conheci lá por 2016/17, por causa justamente de Joe. E eu me apaixonei pela banda instantaneamente e, principalmente, pelo álbum que eles lançaram em 2018: When I Think Of You In A Castle.
Os dois projetos têm sonoridades similares, pautadas nessa psicodelia roqueira, embora tenham personalidades bem diferentes. Kerry deixou o Post Animal em 2019, mas já vinha trabalhando nesse seu projeto solo, e lançou, no mesmo ano, o seu primeiro álbum, intitulado Twenty Twenty.
E eu acho muito legal que, de alguma forma, a minha empolgação com Stranger Things (quando ainda era boa), tenha me feito conhecer, por causa de um dos seus atores, dois projetos super legais!
E já que estamos falando da cena DIY de Chicago, vale a pena citar também uma outra banda do meu coração: o Twin Peaks. Essa eu não conheci pelo Joe, mas sim por ser homônima a uma das minhas séries favoritas. Porém, acabou que também é uma grande inspiração dele. A banda está em hiato (segundo informações do reddit) desde 2020. A minha dica, se quiseres conhecer um pouco do seu garage rock é o álbum Down In Heaven, de 2016.
one life, might live
Falando da relação séries e músicas, uma artista que virou minha fixação por causa de uma série, embora eu já a conhecesse antes, foi Little Simz. No ano passado, eu estava assistindo à série da Netflix Tudo Pra Ontem e em determinado momento da trama, a jornada da protagonista é embalada pela canção “one life, might live”. A letra me tocou tanto e logo que o episódio acabou, fui atrás de ouvi-la novamente.
Descobri que fazia parte do EP Drop 6, lançado por Simbi em 2020. Perdi as contas de quantas vezes ouvi essa música e esse EP e fui aos poucos explorando um pouco mais a discografia da rapper e me apaixonando a cada novo verso. E, para a minha alegria, agora em 2024, Little Simz lançou um novo capítulo dessa série de EPs: o Drop 7 e o negócio é sen-sa-cio-nal. Quem me acompanha no instagram sabe que eu fiquei louco quando saiu. Me empolguei demais com “Fever”, que é a mistura do Brasil, Inglaterra e Nigéria, mas cada canção tem o seu valor. “Mood Swings”, que abre o EP, é feita para mim também.
Mas não dá para ficar só nos singles, viu? É uma artista com uma discografia feita para mergulhar e aproveitar a viagem. Uma música é melhor que a outra. Não é à toa que Little Simz é considerada uma das maiores artistas contemporâneas, porque a bicha é genial.
Depois de assistir ao clipe de “Gorilla”, que é incrível (além da música ser espetacular), dá play nesse vídeo aqui, uma versão dançada não-oficial, que eu amei.
ao vivo é mais gostoso
Eu amo Arlo Parks. Ela é uma das minhas cantoras favoritas da vida inteira. Infelizmente não vai ser dessa vez que eu vou comentar que vi ela tocar ao vivo. Porém, quero recomendar o Tiny Desk que ela fez há alguns meses. Para quem não conhece, o Tiny Desk é um programa do canal do Youtube da NPR (rádio estadunidense), que leva artistas para fazerem um mini show em um clima mais intimista. E todo o clima super combina com a energia de Anaïs, que até tira um momento para ler uma das poesias do seu livro “The Magic Border”.
Para quem quiser conhecer mais do seu trabalho: ela tem dois discos de estúdio e eu escrevi sobre ambos! Se quiser ler, aqui estão as resenhas: Collapsed In Sunbeams (2021) e My Soft Machine (2023).
novidades no meu radinho
Aquele momento de atualizar as tuas playlists e adicionar novos artistas à tua biblioteca.
ATARASHII GAKKO! – Tokyo Calling
Antes de mais nada, dê play no clipe e aproveite. O power group japonês mistura vários elementos na sua sonoridade pop e ganha o público na mistura dos vocais (especialmente os graves de Suzuka), passos de dança inusitados (estranhos) e o carisma das quatro integrantes, que estão sempre vestidas com uniforme escolar e a faixa de representante de turma no braço. É divertido justamente por subverter, de certa forma, o que se esperaria de uma líder de classe, trazendo várias críticas e sátiras nas suas letras. Depois de “Tokyo Calling”, vá ouvir o álbum ICHIJIKIKOKU e assistir também ao clipe de “OTONABLUE”.
Toró – Bicho
No finalzinho do ano passado, veio ao mundo o primeiro registro da Toró, essa banda que mal começou, mas eu já amo. O projeto é formado por musicistas talentosíssimes da região metropolitana de Porto Alegre e mistura sonoridades bem brasileiras a uma pegada indie, com várias texturas através do seu instrumental complexo. “Bicho” é o seu single de estreia, mas se quiser entender mais o que vem por aí, a banda montou uma playlist super gostosa com suas principais influências.
Remi Wolf – Cinderella
Recentemente, chegou até mim a palavra de Remi Wolf (através desse reels) e quando eu fui ver o clipe do seu último single “Cinderella”: mamma mia! A música é ótima, te faz querer dançar e tudo mais, mas eu também adorei a energia de Remi. Quando a gente ouve a estadunidense cantar, dá pra sentir mesmo todas as cores do arco-íris. Se curtir, recomendo o EP Live At Electric Lady!
Infinity Song – Slow Burn
O Youtube me sugeriu a banda e eu fiquei curioso. Acabei curtindo muito a pegada meio indie, meio folk, meio alternativa do soft rock da Infinity Song, banda de Nova Iorque formada por quatro irmanes. Suas canções tem uma atmosfera gostosa de se habitar, criada pela mistura dos instrumentais com seus vozeirões – dá para ouvir (e sentir) o fato de que a família cresceu no coral fundado pelos seus pais. Se curtir “Slow Burn”, recomendo o EP Metamorphosis de 2023, que eu achei uma delícia.
Rachel Chinouriri – What A Devastating Turn of Events
E nos recomendados do vídeo supracitado estava a Rachel Chinouriri e que bom que eu dei play. Com lookinhos saídos anos 2000 e uma sonoridade pop, que contém elementos de R&B, indie e pop rock, ela entrega vocais intensos e que conquistam à primeira ouvida. E eu curti justamente essa facilidade que ela tem em transitar entre canções mais levinhas e românticas e mais dançantes, como é o caso de “Never Need Me” (música que me apresentou a inglesa). O seu álbum de estreia, What A Devastating Turn of Events, sai em maio. Mas já dá pra ouvir os singles, além de seus dois EPs e o “mini-álbum” Fourtº In Winter.
nour – Wana
Outra preciosidade que encontrei ao acaso foi nour, artista do Egito que traz uma fusão única de sintetizadores de bedroom-pop a ritmos árabes, batidas animadas e um climinha meio onírico. Quero que meus sonhos tenham essa trilha sonora, pode ser? É música de dar play e dançar devagarinho de olho fechado, sabe… Depois de ouvir “Wana”, tu precisas ouvir o EP daydreamer de 2023.
Fim do volume 1. Gire o disco.
Espero que tu gostes dessa curadoria, feita com carinho. Curtiste as recomendações ou tens algo para me indicar? Sou todo ouvidos!
No radinho é uma editoria mensal da newsletter jennews. Toda segunda-feira, uma nova curadoria feita para ti!
Caramba, tem razão! "End of beginning" é mesmo um chicletaço! A gente fica cantarolando direto!